Rússia declarou embargo a importações dos EUA e Europa em agosto
Passados quatro meses desde a imposição dessas barreiras, porém, seu resultado divide exportadores brasileiros.
Enquanto produtores de frango e carne suína atribuem ao embargo um crescimento de mais de 100% nas vendas para os russos neste ano, os exportadores de carne bovina parecem ter se decepcionado.
"Já vínhamos em uma trajetória de aumento das exportações para o mercado russo e nosso pico de vendas para o país na realidade ocorreu em julho, antes do embargo", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Antonio Jorge Camardelli.
Na época, as vendas chegaram a 40 mil toneladas. Depois disso, regrediram para o patamar das 30 a 35 mil toneladas.
É verdade que, nos 11 primeiros meses deste ano, a Rússia importou US$ 1,279 milhões em carne bovina brasileira - só perdendo para Hong Kong na lista de maiores importadores. Ainda assim, a alta foi de apenas 6,8% em relação ao mesmo período de 2013.
"Nos últimos meses, uma cesta de fatores que incluem o desaquecimento da economia russa e a desvalorização do rublo acabou nos prejudicando", avalia Camardelli.
Já no caso das exportações de carne suína, as barreiras à importação de produtos americanos e europeus ajudaram a Rússia a se tornar o principal importador do produto brasileiro em 2014, com uma participação de 37,9% sobre o total, de acordo com dados publicanos na terça-feira pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
De janeiro a novembro, os russos importaram US$ 766,03 milhões em carne de porco brasileira, uma alta de 101,5% ante igual período de 2013.
O aumento dos embarques de carne de aves para a Rússia também foi substancial após o embargo, segundo Ricardo Santin, vice-presidente da ABPA.
Como resultado, de janeiro a novembro as exportações foram 159% superiores às do mesmo período de 2013 em volume e cerca de 120% mais altas em valores.
"Isso certamente foi resultado do embargo - até porque as vendas de carne de frango para a Rússia vinham em uma trajetória de queda", diz Sartin.
"Talvez a diferença de resultados em relação aos produtores de carne bovina seja decorrência de um ambiente de menos concorrência no caso das aves e suínos - já que para a carne bovina os russos têm como alternativa forte os australianos. Além disso, é preciso lembrar que o nosso produto é mais barato: seu consumo tende a se manter em momentos de desaquecimento econômico."
O vice-presidente da ABPA explica que, no caso das exportações de aves, o mercado russo tem um peso relativamente pequeno para o Brasil - de cerca de 3%.
"É claro que essas altas recentes (das vendas para a Rússia) também devem ser relativizadas em função da volatilidade desse mercado", diz ele.
"Já chegamos a enviar 300 mil toneladas de aves para a Rússia, mas houve uma queda para a faixa das 60 mil toneladas antes de os embarques voltarem a subir, no pós-embargo, para a faixa dos 120 mil."
As barreiras russas às exportações dos Estados Unidos e da União Europeia foram uma retaliação às sanções adotadas contra Moscou por causa da crise na Ucrânia.
Os americanos e europeus acusam a Rússia de apoiar rebeldes separatistas no leste ucraniano e usaram tais sanções para pressionar por um fim da influência russa na região.
"Não festejamos ganhos que sejam decorrentes de problemas e crises internacionais, mas não há como negar que o embargo foi positivo para os produtores de carne suína e de aves brasileiros", diz Sartin.
"Por outro lado, não temos nenhuma garantia de que esse efeito será duradouro, ajudando a consolidar uma parceira comercial Brasil-Rússia nessa área."
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